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Por: Pr. Lourival Dias Neto

A Revista Época de 29 de dezembro de 2003 traz como matéria de capa uma reportagem sobre a família com o seguinte título: “A nova família”. Ela é descrita a partir de alguns números que no mínimo nos chamam atenção. Os dados preliminares dizem que metade das famílias brasileiras já não segue o modelo tradicional de pai, mãe e filhos em um único casamento. Uniões sem papel passado quase dobraram. Casamentos oficiais diminuíram 12%. Aumentou 64% o número de pessoas que moram sozinhas.  Casais sem filhos já são 39%. O número de mulheres que criam filhos, sozinhas cresceu 53% e uma em cada quatro residências tem três gerações morando juntas. Esses números sugerem que profundas transformações estão acontecendo na estrutura familiar, que comprometem ao mesmo tempo a beleza e a transcendência do casamento, bem como a família segundo o plano de Deus. Um olhar profundo sobre essa nova realidade nos faz ver um novo álbum de família, diferente daquele tradicional.

Mais que números, esses dados servem para confirmar o que Lia Zanotta Machado, antropóloga da UnB afirma: “O valor da família não prevalece mais sobre o dos sentimentos individuais das pessoas”. Isso significa que alguns princípios da boa convivência estão perdendo espaço nas relações familiares e que alguns papéis da família estão se perdendo.  Na verdade há uma ilusão muito grande em torno de certos caminhos tomados na direção de se resolver alguns conflitos que surgem no seio da família, em que as pessoas na hora de decidirem sobre o futuro, levam quase que exclusivamente em consideração os sentimentos individuais. 

É necessário buscar uma reflexão que nos ajude a entender o que está acontecendo e ao mesmo tempo o que pode ser feito para trazer a família para dentro daquele propósito original de Deus, de uma vivência em parceria, marcada pela fidelidade, ternura, respeito, responsabilidade e amor.  Não é a negação da existência dos conflitos familiares, sabemos que a família é o lugar da diversidade das idéias, dos sonhos, das aptidões, dos desejos, mas é a utilização dos próprios conflitos como fator de amadurecimento individual e coletivo. 

Quando no processo decisório o individual está sempre acima do coletivo, a idéia de família unida e indissolúvel fica comprometida, as pessoas rompem com o estatuto da família e vão viver de outras maneiras. Frente a essa realidade, quais seriam os possíveis caminhos a serem tomados. Acho que essa é a grande questão. Sem pretender esgotar todas as possibilidades, a guisa de exemplo, podemos relacionar alguns caminhos, que percorridos serão facilitadores de uma reconstrução. Em primeiro lugar a família precisa ser um lugar de abrigo. Em suas palavras Rosely Jorge, psicóloga clínica, diz que “infelizmente, uma grande parte das famílias perdeu a dimensão de sua função primeira de abrigo e verdadeira amizade e se transformou em um campo de batalhas insanas”. Isso se deve primariamente ao desprezo das boas regras da convivência social, tão bem expostas na Bíblia Sagrada, principalmente no sermão do monte, proferido pelo Senhor Jesus.

Imbricado na mesma função já mencionada, também o conceito de parceria. A família precisa ser um lugar de parceiros. O próprio Deus disse: “Não é bom que o homem viva sozinho. Vou fazer para ele alguém que o ajude como se fosse a sua outra metade” (Gn 2.18. BLH).  Ao nos vermos encastelados pelos desafios da vida, nada melhor do que contar com parceiros leais. A família é o espaço onde treinamos as nossas habilidades para uma vida de parceria. O peso da vida precisa ser redistribuído de forma mais justa e humana e isto só ocorre nos significativos vínculos construídos nas verdadeiras amizades.

Outro elemento importante que contribui para essa construção é o entendimento da família como espaço de educação. No livro de Deuteronômio capítulo 6, Moisés instrui aos pais acerca da instrução aos filhos como condição de benção.  A compreensão de educação aqui passa necessariamente pelo conceito de desenvolvimento humano. É preciso entender desenvolvimento como um ato contínuo da vida. Não somos seres acabados, prontos para todas as demandas da vida, estamos em processo de crescimento, e a família como primeiro núcleo do convívio humano é importante na história de vida de todos nós. É nela que aprendemos os primeiros conceitos e temos as primeiras experiências de uma vivência social.

Os exemplos poderiam se multiplicar, mas em razão do espaço, deixo para o leitor a tarefa de pensar outros caminhos que possam ser trilhados, que nos levem a uma construção social mais segura, em que o nosso álbum de família seja resultado do equilíbrio entre os valores individuais e coletivos. A construção se faz construindo e como nos sentimos mais seguros quando ela se assenta sobre os valores históricos do Criador!  Em que pese toda propaganda contra a instituição familiar, visando sua desconstrução, é preciso continuar acreditando na família como idéia de Deus. 


Sobre o Autor: Presidente da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, Ministério de Madureira em Sobradinho - DF; Ministro do Evangelho; Conferencista; Escritor e Psicólogo.

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